top of page
REVISTA MÉTODO ZELENY: TECNOLOGIA DE GESTÃO EXECUTIVA

Reconhecimento Interespacial

Revista Método Zeleny: Tecnologia de Gestão Executiva
A acreditação do Método Zeleny por uma das mais renomadas instituições de pesquisa e tecnologia no mundo.
Reconhecimento Interespacial, Parte 1

RONALD DE OLIVEIRA CONCER
CIÊNCIA DAS REDES RONALD CONCER MODELAGEM PARA DECISÃO

A NASA, acrônimo para National Aeronautics and Space Administration, é a célebre agência governamental norte-americana responsável por ciência e tecnologia aeroespacial. Uma das mais renomadas instituições de pesquisa e tecnologia do mundo, a NASA é dividida em cinco divisões (Mission Directorates) além de dez centros de pesquisa. Com orçamento estimado superior a 25 bilhões de dólares por ano, os esforços de pesquisa e desenvolvimento vão além da exploração espacial. A exemplo das diversas realizações, está o NASA spinoff, a transferência de tecnologia para aplicações comerciais: inovações desde indústria, saúde, energia, bens de consumo etc., por meio de patentes pelas principais empresas do mundo.


Tendo em vista a realização de missões espaciais, os assuntos abordados estão sempre em torno da composição dos grupos. A NASA tem apontado a formação de equipes como tema potencialmente significativo para minimizar os riscos de desempenho, em virtude de problemas com a tripulação acerca de cooperação, adequação psicológica, coordenação ou comunicação, aspectos determinantes para expedições futuras. A maioria das pesquisas sobre formação de equipes é derivada de estudos elaborados em contextos organizacionais tradicionais. Enquanto as análises procedem dos formatos e contextos convencionais, as publicações sobre ambientes de condições extremas são muito limitadas. Neste particular, pouco é relatado sobre isolamento, problemas de comunicação, tal como ocorrem em ambientes programados para a exploração espacial.


Conceituado como Long-Duration Space Exploration Contexts (LSDE Contexts), trata-se de ambientes de longa duração para exploração espacial. As particularidades desses ambientes jamais foram empiricamente retratadas. Envolve atuação em espaços confinados, isolamento por longos períodos e até comunicação reduzida – em expedições futuras para Marte, projeta-se possíveis atrasos de comunicação de até 20 minutos com o Controle da Missão na Terra. Para alcançar o sucesso da missão, a tripulação é formada por seis membros, as equipes são multifuncionais e abrangem cientistas de funções heterogêneas. Os integrantes geralmente compreendem diversas nacionalidades. As tripulações têm um líder. Embora as atividades ocorram de maneira interdependente com o Controle da Missão, o aumento do grau de autonomia é previsto no curso da expedição dos tripulantes.
 

Missões espaciais compreendem a execução de tarefas dinâmicas, complexas e altamente interdependentes. Para sua consecução, são necessários tripulantes do mais alto gabarito para integrar o quadro. Além de muito especializados, os astronautas que constituirão as equipes devem ter comunicação precisa para transmitir informações dentro da tripulação e com o Controle. O treinamento prévio é extenso e a admissão é bastante seletiva. Além da formação da tripulação, também é esperada expertise específica da equipe do Controle. Incumbidos de tarefa única e importância não redutível somente à NASA, tais como melhorias científicas ou desenvolvimento tecnológico, mas de interesse de toda a humanidade: a existência de vida em outros planetas. Embora o processo de seleção e preparação técnica seja bastante rigoroso, diversos outros fatores afetam a interação e dinâmica das equipes e, por consequência, o desempenho da missão.
 

Com o propósito de aprofundar o tema, pesquisadores da NASA organizam um quadro de referência. O levantamento bibliográfico intitulado Critical Team Composition Issues for Long-Distance and Long-Duration Space Exploration: a Literature Review, an Operational Assessment, and Recommendations for Practice and Research, procurou identificar questões críticas para a formação e funcionamento de equipes. O foco principal estava na análise dos fatores para a composição da equipe, suas implicações no desempenho e bem-estar da operação em LSDE. A pesquisa avaliou os métodos adotados em estudos em ambientes análogos. A coleta abrangeu 72 bases de dados e consulta superior a 400 documentos. Entre os modelos verificados, os pesquisadores apontaram o modelo original de Leslie Day Zeleny como primordial para o estudo da composição de equipes para viagens de longa duração. O documento é parte do NASA Scientific and Technical Information Program (NASA STI). Para a análise, os pesquisadores da NASA elaboraram o quadro de referência baseado em dois objetivos principais, a saber, (1) a identificação dos fatores de composição das equipes e (2) os métodos de escolha.

RONALD DE OLIVEIRA CONCER.jpg

LEIA A
VERSÃO COMPLEXA

Ronald Concer NASA.jpg

COMPOSIÇÃO DAS EQUIPES: CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS
O primeiro ponto refere-se à configuração dos atributos dos membros da equipe: características específicas de cada componente. Esses atributos são postulados em dois níveis: as variáveis profundas (deep-level) e as variáveis de superfície (surface-level). No primeiro nível compreendem características psíquicas como valores, personalidade ou mesmo habilidades. Nestes, acredita-se que são delineados os comportamentos do indivíduo e conduza suas decisões diante de situações diversas. Já as variáveis de superfície são aquelas facilmente perceptíveis mediante uma ligeira exposição aos demais membros da equipe. Incluem-se propriedades demográficas, tais como gênero, idade, etnia ou nível de escolaridade. Geralmente os indivíduos são avaliados, mesmo que de maneira precipitada, pelas variáveis de superfície, porque elas são nítidas nas relações sociais.

 

O foco específico nos atributos auxilia a identificação de questões críticas acerca da composição. Pode revelar, inclusive, características e habilidades que deverão ser desenvolvidas por meio de treinamento extensivo. Para usar isso na projeção de equipes é preciso antes identificar tanto os atributos específicos quanto as configurações no nível de equipe para predizer os resultados.
 

Grande parte do levantamento revelou que as variáveis profundas afetam o desempenho da equipe de forma mais intensa e prolongada. Esta manifestação foi examinada com equipes tradicionais. Em observações geradas em processos de equipe, tais como coesão e situações de conflito, indicaram que o tempo de convivência atenua divergências como idade, gênero ou etnia, e ainda, intensifica as diferenças derivadas de traços de personalidade, atitudes ou valores dos membros. Os estudos relatam também que conforme a cooperação dentro das equipes, os pré-julgamentos iniciais atrelados às variáveis superficiais reduzem seu efeito. Ademais, a influência das diferenças profundas começa a ter um impacto maior na integração social e no desempenho.
 

Em busca de comparações mais próximas às dinâmicas delineadas pela NASA, o levantamento abrangeu estudos em ambientes análogos aos LSDE, tais como expedições polares, estações de trabalho na Antártida e outros ambientes simulados. Embora houvera alguma convergência quanto às dinâmicas apontadas acima, os resultados foram diversos. Em expedições polares, por exemplo, notou-se a variação dos valores de alguns exploradores. A partir de observações em diários de bordo de astronautas, identificou-se o aumento das necessidades básicas (afiliação, necessidade de realização) frente a padrões de personalidade registrados antes do embarque. Enquanto outras experiências se apoiaram, a importância crescente das diferenças de nível profundo ao longo do tempo, por outro lado, a pesquisa sugere que as variáveis de superfície podem manter sua influência no funcionamento da equipe, especialmente em ambientes de isolamento.

NASA Scientific and Technical Information Program (STI)
Pesquisadores da NASA apontaram o modelo original de Leslie Day Zeleny como primordial para a composição de equipes para viagens de longa duração.

É POSSÍVEL PREVER COMPORTAMENTOS?
As evidências relatadas indicam a relevância de ambas as categorias de atributos para a formação das equipes. No entanto, duas lacunas não são preenchidas no levantamento da literatura. Em primeiro lugar, questiona-se como identificar tais atributos, e principalmente, de forma prévia ao início da missão. Cogita-se de forma fictícia, tentativas possíveis. Uma das vias seria a partir de agrupamentos, fruto de treinamentos conjuntos ou experiências anteriores. Neste caso, cada tripulante nomearia os demais baseado em preferências pessoais, seja familiaridade ou fatores diversos. Entretanto, os próprios atributos não podem ser delineados de forma prévia, já que missões tem propósitos variados, momentos distintos e características especificas que proponham atributos heterogêneos. Além disso, a convivência de longa duração faz com que as preferências comportamentais se modifiquem em virtude da condição humana. Em suma, a pouca eficácia dessas tentativas mostra que a ideia da elaboração de um padrão comportamental como modelo de atributos, seja uma idealização absolutamente insensata.


Em segundo lugar, suponhamos que, tais atributos fossem hipoteticamente identificáveis de forma prévia. Num cenário imaginável, embora praticamente irreal, questiona-se como seria aceitável conceber a combinação deles para mensurar a probabilidade de sucesso no cumprimento das tarefas. A literatura menciona a escolha de configurações guiada por razões teóricas por trás dos atributos dos membros, afetando o funcionamento da equipe em contextos particulares. No entanto, a combinação desses atributos não é passível de qualquer modelo de previsão pelas mesmas razões apontadas acima – tampouco, é impossível conceber como a combinação de atributos pudesse predizer o impacto do desempenho na missão.


O foco específico em atributos não garante a coesão e desempenho. Além de falhar ao tentar concatenar atributos, observa-se que nenhum modelo pressupõe o trabalho com relações sociais. O levantamento teórico enfatiza somente o aspecto individual baseado em atributos. O mal funcionamento da dinâmica ao trabalhar com o fator integração social são indicadas a seguir.

Para citar:

CONCER, R. (2024) Revista Método Zeleny: Tecnologia de Gestão Executiva. Relatório Anual. Disponível em https://www.ronaldconcer.com/

bottom of page