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REVISTA MÉTODO ZELENY: TECNOLOGIA DE GESTÃO EXECUTIVA

Como Identificar Fraude Organizacional?

Qual o principal objetivo do gestor hospitalar? Prestar serviços na área da saúde com qualidade, eficiência e eficácia? Oferecer estrutura de ponta e fornecer atendimento humanizado? Prezar pelo bem-estar do paciente? Nenhum deles. O objetivo do gestor da saúde é manter-se no cargo. Essa lamentável constatação é revelada pelos algoritmos do Método Zeleny de Gestão.
Como Identificar Fraude Organizacional? Parte 2

RONALD DE OLIVEIRA CONCER
Image by Brandon Holmes

AS RESISTÊNCIAS
É típico o comportamento de desconfiança perante qualquer inovação. Instrumentos de avaliação, em geral, são os mais temidos em organizações problemáticas. Apesar da resistência ser um fator inerente à natureza humana, posturas diversas identificam incompetência e problemas adicionais ao modelar variados perfis profissionais.


Em geral, funcionários são resistentes devido à falta de capacidade de trabalho. Tarefas cotidianas, banais ou recorrentes não criam barreiras para que um funcionário seja substituído. Ao seguir rotinas operacionais e manter boas relações com os próximos são ações comuns, mas significativas da atuação do executivo resistente. À medida que percebe mudanças mínimas no escopo das atividades, pressente-as como ameaças à preservação do próprio cargo.
 

Tal insegurança perante instrumentos de avaliação é explicada pela insuficiência da capacidade de trabalho.

Funcionários desconfiam de novos mecanismos, simplesmente pelo assunto não fazer parte do seu limitado repertório adquirido. Ferramentas desconhecidas podem desestabilizar o padrão já alcançado e tornar visíveis falhas pessoais, sigilosas ou não percebidas pelo resto da equipe. A soma de tais motivos molda o retrato daquele que afugenta qualquer prática estranha à sua rotina, seja pelo poder de influência interna ou por ações autoritárias. Já o perfil oposto não demonstra qualquer impedimento frente a novas experiências: o cargo que ocupa é baseado simplesmente em competência e não há razões para temer pesquisas externas ou sistemas de avaliação adicional.


Mesmo em patamar preliminar, a introdução do Método Zeleny traz à tona tais ocorrências. Em averiguações mais detalhadas, verificou-se que a contratação e permanência de certos funcionários decorre da própria indicação de executivos da alta gestão. Independentemente do nível de qualificação, o funcionário recebe uma espécie de depósito de confiança, com o objetivo de assegurar cargos estratégicos em organizações hospitalares. Registros de fraude, ineficiência de funcionários e resistência de subgrupos são expostas nas páginas 30 e 31 (veja os quadros detalhados na versão completa).

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LEIA A
VERSÃO COMPLEXA

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O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS
Problemas na gestão hospitalar não são diferentes de qualquer outra organização. Conflitos, metas, fluxo de comunicação e procedimentos se manifestam de forma muito similar. A principal diferença é que na maioria das empresas, falhas por ineficiência resultam em perdas somente financeiras. Já no hospital, falhas custam em vidas. Em consulta a especialistas externos à aplicação do Método Zeleny, confirmam-se os resultados junto com a discussão de outros problemas na gestão da saúde.


Um dos pontos é o elo entre departamentos em hospitais. Em geral, a comunicação entre diferentes divisões é bastante fraca. “Equipes cirúrgicas atuam de forma muito autônoma” conforme relatado por Enilde Guerra, mestre em medicina cirúrgica pela UFRGS, preceptora da residência em cirurgia geral do Grupo Hospitalar Conceição e conselheira do CREMERS. “Há pouquíssimo contato entre diversas áreas do resto do hospital, tais como departamento de compras ou mesmo recursos humanos”, acrescenta. Embora tal circunstância seja própria do formato tradicional do setor, é perceptível que problemas em áreas funcionais impactam diretamente o desempenho de áreas clínicas. Sem material, não há tratamento médico, tampouco cirurgias. Por se tratar de departamentos muito fechados, a ineficiência compromete condições gerais do atendimento hospitalar.
 

Equipes da área comercial também pecam neste quesito. Executivos tomam decisões sem nenhum parâmetro e, principalmente, deixando de fora o elemento essencial da aplicação: o médico. Áreas clínicas são sacrificadas por erros em precificação de consultas e exames, o que acarreta redução de recursos financeiros devido a erros de mensuração e alocação.
 

Exemplo interessante nas administrações é como são gerenciadas questões de terceirização em certos setores hospitalares. Isso pode ocorrer tanto em departamentos clínicos quanto em serviços de apoio. No primeiro caso, terceirização de médicos pode comprometer a qualidade de serviços gerados. Médicos externos, estranhos à convivência, não garantem o cumprimento de normas ou boas práticas esperadas em determinados ambientes. Em ocorrências graves, verifica-se condutas profissionais vacilantes acerca das boas práticas da saúde. Em outras divisões, tais como serviço de apoio, nota-se inadequação da seleção dos prestadores de serviço. Há casos em que funcionários da limpeza que não têm condições mínimas de higiene, algo absolutamente inaceitável num ambiente hospitalar.
 

Decisões desse tipo não são limitadas somente à apuração dos custos contábeis. Eficiência nas relações, coesão de equipes, monitoramento de desempenho são fatores que encarecem as operações a longo prazo e põem em risco a estrutura empresarial (ver o quadro na versão completa).
 

A origem da ineficiência não é restrita a dificuldades em comunicação ou decisões em questões de terceirização. Algumas situações discutidas revelam conflitos entre funcionários administrativos e o corpo clínico. Aqui, ressalta-se que certos gestores (fora do quadro clínico), desenvolvem rivalidade com médicos. A hostilidade é por concorrência e parte dos gestores contra o quadro clínico. Tal comportamento é inconcebível para qualquer um que tenha a pretensão de se estabelecer em organizações do setor da saúde. Além do absoluto desconhecimento de critérios técnicos, tais gestores tomam decisões e mantém pessoas em equipes por variados motivos que vão desde preferências políticas a laços de amizade, até a sabotar os próprios médicos ao manter os piores funcionários no quadro geral. Percebe-se ainda que sistemas ou práticas administrativas já implementados são de difícil detecção acerca das falhas nos resultados. O intervalo entre o registro de dados e o desempenho financeiro negativo é muito longo.
 

A eficiência em ambientes hospitalares também é afetada por casos de competição: derivada dos notórios conflitos entre egos. Mas, também por motivos financeiros. Em comparação com hospitais públicos e privados, competição entre equipes ocorre frequentemente. Nos hospitais privados, a competição em equipes cirúrgicas ocorre para obter mais serviço. Por vezes, pacientes são afetados por tal conduta, pois, dependendo da disponibilidade de médicos, não haverá atendimento médico, o que compromete a reputação do hospital, ao contrário de hospitais públicos, em que essa incidência praticamente não existe. A razão é muito simples: todos recebem o mesmo honorário. “Cirurgião gosta de trabalhar, tem horror a ficar sentado.”, exclama Enilde Guerra.

GESTÃO HOSPITALAR
...executivos sustentam posições baseados em acordos informais (...). Tal comportamento sugere falcatruas prévias dentro do subgrupo com o intuito de acobertar fraquezas internas ou buscar autopromoção.

Na busca pela eficiência em planejamento e execução das rotinas médicas, a coesão é elemento de destaque. Segundo o depoimento de Wagner Iared, doutor em Medicina Interna e Terapêutica pela UNIFESP, o Método Zeleny contribui para “alcançar máxima produtividade, proporcionar a atuação médica compatível com a demanda sem sobrecarregar agendas e respeitando as particularidades de cada profissional.” As melhorias vão desde a seleção de apoiadores para o quadro médico, gestão de horários e alocação de pacientes. Para alcançar o ponto ótimo, a coerência na formação de equipes sobressai novamente. Iared confirma que a tecnologia “é fundamental para o funcionamento por meio de adequação de apoiadores, gestores e do próprio quadro médico. O Morale Index exibe isso nitidamente.”


Outro aspecto agravante está na falta de preparo para assumir cargos de gestão. A formação é muito incipiente. A maioria dos profissionais da saúde frequenta cursos de pós-graduação ou MBA e sai com a mesma bagagem com que entrou. Primeiro, porque os cursos oferecidos são incompletos. Profissionais da saúde cursam pós-graduação em gestão para aprender o jargão dos negócios. Isso permite que o médico gestor frequente reuniões e conheça o significado dos termos utilizados por executivos. Mas não significa que os pós-graduados saibam como lidar com os assuntos ou aplicar os conceitos no cotidiano de trabalho.


Esse diagnóstico é narrado por executivos da área. Zhao Chengcheng, CEO do Puyi Global, instituição especializada em medicina diagnóstica, relata fatos curiosos. Em cursos de pós-graduação em gestão hospitalar a minoria dos alunos é composta por médicos. É relatado também que a maioria dos alunos são enfermeiros, técnicos de engenharia da saúde ou pessoas de outras categorias profissionais. Zhao aponta dificuldade para encontrar médicos com apreço pelos tópicos de gestão, “mesmo oferecendo cursos de gestão é difícil o interesse: eles preferem fazer especialização na área específica da medicina”.


Cenários em que a alta gestão hospitalar é formada por médicos, tais problemas põe em xeque a figura do médico no atual patamar gerencial. O médico deve assumir o papel de liderança nesse processo a partir do mapeamento dos problemas de forma muito precisa. Atribuições de “fiscalizar, organizar e fazer a equipe funcionar, desde organizar enfermeiros, técnicos e demais profissionais devem ser atribuídas ao médico gestor”, segundo Zhao.
Ineficiência em gestão de pessoas e custos, a longo prazo não só comprometem procedimentos como também a acreditação da missão hospitalar. Manter profissionais sem preparo específico ou compromisso idôneo é fruto da falta de controle das relações. A falta de transparência nas relações é o indicador inequívoco para tal afirmação: o que o Método Zeleny, evidencia.

Para citar:

CONCER, R. (2024) Revista Método Zeleny: Tecnologia de Gestão Executiva. Relatório Anual. Disponível em https://www.ronaldconcer.com/

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